"There's something warm about the rain"

...é qualquer coisa assim que não chega dura à lembrança,
nem queda macia no esquecimento,
principalmente se é outubro
e se CHOVE.


( tentando encontrar uma máquina capaz de imprimir
a carta que escrevo initerruptamente à você
há aproximadamente trocentos dias dentro da minha cabeça.)





Hoje

Se não fosse o entrecortado espaço tempo das vinte quatro horas do dia seria só uma saudade, vadia.

Memória do caderno verde, mil novecentos e EU gravei um tape pra Você.

Girândola

Tem alguém pensando em mim dentro do anel de fumaça
Tem um sorriso escorregando num canto de olho
Tem uma canção empoeirando na vitrola e uma cor estragando na paleta
Tem alguém zapeando o controle remoto(do mundo?)
Tem um pássaro espiando na beirada da janela e um abraço esperando na soleira da porta
Tem um copo emborcado embaixo da cama e um homem tendo sonhos bêbados
Tem alguém pensando em mim dentro do anel de fumaça que salta de dentro do cigarro
Tem um corpo se debatendo nos arredores de uma alma(desalmada?)
Tem uma caneta girando uma mão que esquece
Tem um amontoado de mentiras de domingo enfeitando o criado-mundo do homem que esta tendo sonhos bêbados
Tem um livro encravado na estante que me revelaria o sentido da vida mas eu não sei disso e nunca irei abri-lo
Tem um ano impresso num papel novinho em folha esperando para a ser presente e passado( a limpo?)
Tem fogos coloridos lá fora e um fogo de palha aqui dentro
Dentro do sonho bêbado do homem tem alguém pensando em mim dentro do anel de fumaça que salta de dentro do cigarro que repousa ao lado de tantos outros de histórias assim já fumadas dentro do cinzeiro que não tem retalhos de nenhuma carta.

Troco

Um coração usado
num toca-fita novo,
volto bala de troco
de pólvora e de côco.

Metade

No meio do caminho
Do caminho do meio
Meio alegre, meio triste
Meio reta, meio torta
Meio viva, meio morta
À meia noite no meio da rua
a meia alma se ia sob a lua
Meia lua
(meio cheia, meio vazia)

o teu corpo azul

Desabutuado
nú armário
Andorinhas migram de seus ternos poídos e abraçam infinitos...

Desanexo

Desabrolhar de sofás à sós
Desapontados os primeiros sóis
Após, descartados os desarrolhados nós
dos desenquadrados descampados de nós

A título de fim

E no corpo da casa rasgada que sou eu
um impresso emborcado: VENDEU.

Os abraços seguem em anexo

com a juntura dos cacos da vida colados em conjunto com chicletes coloridos na janela do conjugado que nunca foi usado: para conjugar.

Poema

pouca palavra
parca porta porca
entrelinha torta
tartaruga que galopa
tatuagem que brota
do grafite bergamota à essa folha morta
e corta recorta e reporta
essa saudade tão farta
E o meu amor amora amoral amarelado
perpetuamente enlatado na prateleira do teu:
SUPERMERCADO
Muitos sonhos ficaram perdidos dentro de um tape velho
Penso em borboletas vermelhas abóboras amarelas discos de vinil
Lavanda
O tempo voa
A vida tá passando por ai: olha pelo retrovisor
tudo era só um fragmento de outra coisa
Pede mais uma cerveja parece que vai chover logo
Penso em frases vencidas fotografias saturadas discos de vinil
Querido Jackson, o mundo nunca mais será o mesmo sem você!