Hoje eu comprei uma garrafa de vinho e um homem morreu
Também aconteceu nada e um cigano leu minha mão
Muita gente telefonou
Nem pensei em você, amor
Eu comprei uma garrafa de vinho e um homem morreu
Veio aqui uma moça doente que era linda por dentro
Muita gente telefonou
Me encontro saudável e só tenho o lado de fora
Também aconteceu nada e você não tava na mão
que o cigano leu
Comprei uma garrafa de vinho e um homem morreu

Escrevo nas costas
da alma ou da mão
sem qualquer razão

Era uma vez


"- E que uma palavra ou um gesto, seu ou meu, seria suficiente para modificar nossos roteiros.(Silêncio)- Mas não seria natural.- Natural é as pessoas se encontrarem e se perderem.- Natural é encontrar. Natural é perder.- Linhas paralelas se encontram no infinito.- O infinito não acaba. O infinito é nunca.- Ou sempre.(Silêncio)"
Caio Fernando Abreu





Era uma vez muitas coisas que ela deveria ter dito a ele naquela tarde em que eles eram uma vez antes de se partirem em muitas coisas que ela deveria ter dito a ele uma vez antes de se partirem e serem só a tarde em que eles eram muitas coisas que ela deveria ter dito a ele uma vez e agora era tarde e era só a tarde além da vidraça, pensa: a moça que lê sonetos no ponto de ônibus talvez não saiba nada sobre sextilhas tercetos quartetos e decassílabos mas deve ter um amor num raio de vinte quilômetros mas ela não era a moça no ponto de ônibus e não lia mais sonetos e não tinha um amor num raio de vinte quilômetros e talvez nem tivesse um amor desejou desatar o nó da garganta das muitas coisas que ela deveria ter dito a ele uma vez mas agora era tarde era só a tarde além da vidraça percebeu que ela própria era uma vez e era as muitas coisas que ela deveria ter dito a ele naquela tarde em que eles eram e agora era só essa tarde e ela era só à tarde ela era a tarde e era tarde: Era uma vez muitas coisas que ela deveria ter dito e talvez nunca dissesse

-caberia o amor num SMS?