Em 23/10/2008 14:45, escreveu:

"....O EXPERIMENTO PRECEDE A CRIAÇÃO; A CRIAÇÃO ANULA E ABSORVE A EXPERIMENTAÇÃO DENTRO DE SI MESMA. O EXPERIMENTO SE FUNDE EM CRIAÇÃO, NÃO A CRIAÇÃO EM EXPERIMENTO" Renato Poggioli




E se eu capturasse todas essas imagens e as enquadrasse em um triangulo azul caberiam todas em um minuto preenchendo o vazio desses frames excessivamente saturados com a batida de uma soul music enquanto peixes psicodelicos recortados de um quadro nadam sobre elas no exato instante em que alguem em um segundo plano dá voltas em torno de si mesmo pronunciando continuamente apenas tres palavras a medida em que lembra e esquece. Mas que palavras seriam essas? Que palavras seriam sólidas o bastante para que sobre elas se pudesse construir(desconstruir) o que deveria ser uma vida mas é quase só um filme? (Depois de editado engavetado e quase esquecido)

Sim, eu sei, exata e científicamente o que é um frame e eu sei que a todo instante de que é feito um momento você  pode perder alguem, sobretudo se esse alguem não for outro senão você  mesmo...uma espera é feita de 35 cigarros sorvidos freneticamente entre goles de café alegrias de vinho e porres de cerveja. Tudo isso editado sem lineariedade ao longo de um dia uma tarde e um quarto de noite precisamente enquadrados dentro de um calendario que nunca foi usado exceto para não lembrar: o que não é igual a tudo na vida e serve exclusivamente para se ver (dá para fazer um filme, mas não dá para viver).

Eu continuo comprando garrafas de vinho e as pessoas continuam morrendo...pelo menos eu me lembrei como é que se vive e me lembro exatamente do dia em que escrevi essa carta que não era uma carta e sim um elemento de montagem. Eu até vejo eu, mas não era eu, era só eu num filme, não importa há quanto tempo atras.

P.s: Agora eu ja sei como seria se você não existisse: SERIA COMO SE VOCÊ EXISTISSE e eu tivesse me perdido de você 
no vigésimo oitavo frame do filme ou,
nas entrelinhas dos 365 dias daquele calendário que eu mesma fiz
para você
Hoje eu comprei uma garrafa de vinho e um homem morreu
Também aconteceu nada e um cigano leu minha mão
Muita gente telefonou
Nem pensei em você, amor
Eu comprei uma garrafa de vinho e um homem morreu
Veio aqui uma moça doente que era linda por dentro
Muita gente telefonou
Me encontro saudável e só tenho o lado de fora
Também aconteceu nada e você não tava na mão
que o cigano leu
Comprei uma garrafa de vinho e um homem morreu

Escrevo nas costas
da alma ou da mão
sem qualquer razão

Era uma vez


"- E que uma palavra ou um gesto, seu ou meu, seria suficiente para modificar nossos roteiros.(Silêncio)- Mas não seria natural.- Natural é as pessoas se encontrarem e se perderem.- Natural é encontrar. Natural é perder.- Linhas paralelas se encontram no infinito.- O infinito não acaba. O infinito é nunca.- Ou sempre.(Silêncio)"
Caio Fernando Abreu





Era uma vez muitas coisas que ela deveria ter dito a ele naquela tarde em que eles eram uma vez antes de se partirem em muitas coisas que ela deveria ter dito a ele uma vez antes de se partirem e serem só a tarde em que eles eram muitas coisas que ela deveria ter dito a ele uma vez e agora era tarde e era só a tarde além da vidraça, pensa: a moça que lê sonetos no ponto de ônibus talvez não saiba nada sobre sextilhas tercetos quartetos e decassílabos mas deve ter um amor num raio de vinte quilômetros mas ela não era a moça no ponto de ônibus e não lia mais sonetos e não tinha um amor num raio de vinte quilômetros e talvez nem tivesse um amor desejou desatar o nó da garganta das muitas coisas que ela deveria ter dito a ele uma vez mas agora era tarde era só a tarde além da vidraça percebeu que ela própria era uma vez e era as muitas coisas que ela deveria ter dito a ele naquela tarde em que eles eram e agora era só essa tarde e ela era só à tarde ela era a tarde e era tarde: Era uma vez muitas coisas que ela deveria ter dito e talvez nunca dissesse

-caberia o amor num SMS?

"There's something warm about the rain"

...é qualquer coisa assim que não chega dura à lembrança,
nem queda macia no esquecimento,
principalmente se é outubro
e se CHOVE.


( tentando encontrar uma máquina capaz de imprimir
a carta que escrevo initerruptamente à você
há aproximadamente trocentos dias dentro da minha cabeça.)





Hoje

Se não fosse o entrecortado espaço tempo das vinte quatro horas do dia seria só uma saudade, vadia.

Memória do caderno verde, mil novecentos e EU gravei um tape pra Você.

Girândola

Tem alguém pensando em mim dentro do anel de fumaça
Tem um sorriso escorregando num canto de olho
Tem uma canção empoeirando na vitrola e uma cor estragando na paleta
Tem alguém zapeando o controle remoto(do mundo?)
Tem um pássaro espiando na beirada da janela e um abraço esperando na soleira da porta
Tem um copo emborcado embaixo da cama e um homem tendo sonhos bêbados
Tem alguém pensando em mim dentro do anel de fumaça que salta de dentro do cigarro
Tem um corpo se debatendo nos arredores de uma alma(desalmada?)
Tem uma caneta girando uma mão que esquece
Tem um amontoado de mentiras de domingo enfeitando o criado-mundo do homem que esta tendo sonhos bêbados
Tem um livro encravado na estante que me revelaria o sentido da vida mas eu não sei disso e nunca irei abri-lo
Tem um ano impresso num papel novinho em folha esperando para a ser presente e passado( a limpo?)
Tem fogos coloridos lá fora e um fogo de palha aqui dentro
Dentro do sonho bêbado do homem tem alguém pensando em mim dentro do anel de fumaça que salta de dentro do cigarro que repousa ao lado de tantos outros de histórias assim já fumadas dentro do cinzeiro que não tem retalhos de nenhuma carta.

Troco

Um coração usado
num toca-fita novo,
volto bala de troco
de pólvora e de côco.

Metade

No meio do caminho
Do caminho do meio
Meio alegre, meio triste
Meio reta, meio torta
Meio viva, meio morta
À meia noite no meio da rua
a meia alma se ia sob a lua
Meia lua
(meio cheia, meio vazia)

o teu corpo azul

Desabutuado
nú armário
Andorinhas migram de seus ternos poídos e abraçam infinitos...

Desanexo

Desabrolhar de sofás à sós
Desapontados os primeiros sóis
Após, descartados os desarrolhados nós
dos desenquadrados descampados de nós

A título de fim

E no corpo da casa rasgada que sou eu
um impresso emborcado: VENDEU.

Os abraços seguem em anexo

com a juntura dos cacos da vida colados em conjunto com chicletes coloridos na janela do conjugado que nunca foi usado: para conjugar.

Poema

pouca palavra
parca porta porca
entrelinha torta
tartaruga que galopa
tatuagem que brota
do grafite bergamota à essa folha morta
e corta recorta e reporta
essa saudade tão farta
E o meu amor amora amoral amarelado
perpetuamente enlatado na prateleira do teu:
SUPERMERCADO
Muitos sonhos ficaram perdidos dentro de um tape velho
Penso em borboletas vermelhas abóboras amarelas discos de vinil
Lavanda
O tempo voa
A vida tá passando por ai: olha pelo retrovisor
tudo era só um fragmento de outra coisa
Pede mais uma cerveja parece que vai chover logo
Penso em frases vencidas fotografias saturadas discos de vinil
Querido Jackson, o mundo nunca mais será o mesmo sem você!